O Auge e a Queda de Killing Eve

Killing Eve, a série sobre uma investigadora especialista em serial killers que começa a investigar uma psicopata assassina de aluguel e lentamente começa a desenvolver uma obsessão por ela, gerando um jogo de gato e rato entre as duas. Essa foi minha série favorita em 2019, eu lembro de ficar falando dela pra todos os meus amigos que curtiam série, que eles tinham que ver, infelizmente a série caiu bastante de qualidade nos últimos anos e assim também foi meu interesse por ela, porém como a última temporada foi ao ar esse ano eu resolvi fazer uma análise do que eu gostei tanto de começo no show e o que deu tão errado nesse final.


Primeira Temporada


Eu tenho uma lista mental de temporadas perfeitas que eu posso assistir de novo e de novo sem me cansar, e essa é uma delas. Eu conheci Killing Eve por um edit aleatório que eu vi no youtube e logo no primeiro episódio eu já fiquei preso dentro dessa série. Esse primeiro ano é perfeito porque ele consegue misturar muito bem a trama de espionagem, o humor, e a relação entre as duas personagens principais. Mas claro que o grande trunfo dessa primeira temporada, e o que fez ela ter tanta atenção é o personagem da Villanelle. Nesse primeiro ano ela ta no equilíbrio perfeito entre essa pessoa super engraçada que não entende direito como as outras pessoas funcionam porque ela é uma psicopata e essa maquina de matar fria e extremamente letal. Essa primeira temporada basicamente gira em torno das aventuras da Villanelle matando pessoas por ai, sendo essa parte uma apresentação da personagem dela, com a gente conhecendo um pouquinho de como ela opera junto com a forma como ela vê o mundo, e ao mesmo tempo a Eve caçando essa seria killer que ela esperou a vida toda pra aparecer e tendo sentimentos confusos em relação a ela. Para mim a grande prova do quão bem escrito era o roteiro da série e o quão sutil o humor era combinado com as cenas de tensão é a cena do jantar das duas, que pra mim é a melhor cena da série toda, é uma coisa extremamente surreal essas duas sentando e tendo uma conversa depois da Villanelle invadir a casa da Eve e molhar ela com agua dentro de uma banheira, é claramente uma situação de comédia só que extremamente tensa ao mesmo tempo, porque nem a Eve e nem a gente sabe o que a Villanelle veio fazer lá e é bem claro dentro da cena que qualquer palavra errada da Eve pode causar um surto na Villanelle e fazer ela matar a Eve ou alguém que ela ama. Tudo que fez Killing Eve uma série tão elogiada por critica e público esta nesse primeiro ano, aquele clássico humor britânico, uma trama de investigação que realmente te deixa preso, reviravoltas que a gente não vê chegando e uma química perfeita entre as duas atrizes principais com os seus dois personagens estando no seu melhor. Eu vou arriscar dizer que é uma temporada em que eu não mudaria absolutamente nada. Nota: 10/10.


Segunda Temporada


A primeira temporada foi escrita pela genial Phoebe Waller-Bridge, e você consegue sentir as marcas dela no roteiro, principalmente no humor dela, que lembra bastante Fleabag, porém ela não voltou para escrever a segunda temporada para focar em um dos outros 900 projetos que ela tem, e é ai que começam os problemas. A segunda temporada tem um roteiro bem mais zoneado e o humor da série vai pra um lado bem mais sitcom do que aquele sarcasmo sutil de antes, isso vai ficar bem pior nas próximas duas temporadas, mas já da pra ver a presença aqui, ainda assim esse ano continua bem a série em sua maior parte. A primeira metade dessa temporada é a minha favorita, o primeiro ano terminou com a Villanelle tomando uma facada da Eve, então a gente assiste essa jornada da Villanelle de quase morrer até chegar novamente no topo do negócio de matança, que era algo que a gente não tinha visto muito antes, na primeira temporada tudo estava a favor dela, ela tinha uma organização bilionária protegendo tudo que ela fazia e acesso a tudo, mas aqui não, ela tem que mentir e ganhar a confiança das pessoas para conseguir se recuperar, e é muito legal ver esse lado mais manipulador dela em ação. Porém depois que ela volta para os negócios de matar pessoas junto com o Konstantin a temporada se perde, porque ai a trama da Villanelle é só ela matando pessoas usando fantasias diferentes, a Eve ta investigando outra assassina chamada "fantasma" mas essa trama é resolvida super rápido, e ai a série introduz dois vilões que são simplesmente jogados lá e nem eu me importo com eles como a série também não parece se importar já que eles são assassinados sem muita cerimônia e isso não tem consequência nenhuma para o resto da história. O que segura bastante essa segunda temporada é as atuações e a química das atrizes, o monologo da Villanelle sobre como ela não sente nada é uma das melhores atuações que eu já vi em qualquer série nos últimos anos, e sempre que a Eve e a Villanelle interagiam juntas o espirito do que fez a primeira temporada tão boa aparecia ali. No geral essa segunda temporada é bem mais bagunçada e para mim foi onde eles começaram a perder a mão com a Villanelle fazendo ela parecer mais uma figura cômica do que uma assassina perigosa, mas a Eve continua muito bem, os personagens secundários estão bem, e tem alguns momentos bem marcantes. Não é tão boa quanto a primeira mas dá pra assistir de boas e se divertir. Nota: 7/10. 


Terceira Temporada


A terceira temporada de Killing Eve é horrível. Essa temporada é tão chata e com tramas tão fracas que quando eu tava vendo ela eu simplesmente esqueci que tava vendo de um dia pro outro, eu parei faltando quatro episódios para acabar e só fui ver esses últimos 4 episódios uns 5 meses depois que eu vi os outros, isso nunca tinha acontecido antes comigo. O que realmente faz essa temporada ser tão ruim é o quanto eles estragaram a Villanelle, o roteiro da segunda temporada não é perfeito mas a Villanelle ainda é incrível, a gente esquece dos defeitos porque a personagem dela é extremamente divertida de se acompanhar, já nesse terceiro ano a Villanelle vira uma figura cômica completa, 90% das aparições dela são ela em um ambiente engraçado ou usando alguma fantasia ridícula, parece que tudo que eles tinham para ela era a ideia de "ai vamos pegar a Villanelle e colocar uma roupa engraçada nela e mandar ela fazer caretas, e essa vai ser toda a piada", então a gente tem Villanelle com roupa de palhaço, Villanelle vestida de Elton John, Villanelle em loja de brinquedos, é muito estúpido e é tão humor sessão da tarde que fica deslocado do que foi apresentando nas duas primeiras temporadas. A Eve também não tem um tratamento dos melhores, nas primeiras duas temporadas ela era uma investigadora medrosa porém muito competente, nesse terceiro ano ela é só uma perdedora que não sabe o que ta fazendo da vida, eles tentam jogar um monte de cena cômica nesse estilo de "olha o quão quebrada e bagunçada ta a vida dela haha" mas não é isso que eu quero ver dela, cadê a investigadora inteligente e foda de antes???. Para piorar eu não gosto de nenhuma das tramas dessa temporada, a Villanelle vai pra Rússia ver a família dela, o que era algo que a gente queria ver desde a primeira temporada, descobrir mais sobre o passado dela, mas ela lá é resumido em media dúzia de cena de comédia e ela matando todo mundo no final e foda- se. Tem uma trama de investigação sobre a morte do Kenny que também é chata pra caralho e parece nunca andar. Eles trazem a filha do Konstantin de volta, as interações dela com a Villanelle na primeira temporada eram hilárias então devia funcionar de novo aqui, mas não funciona, nada funciona. Para mim essa terceira temporada é o ponto em que a série mostrou que não ia voltar ao que fez ela incrível no seu primeiro ano, as atuações ainda estão ótimas, as duas atrizes ainda tinham bastante química quando interagiam juntas, e a cena final delas andando em direções opostas só para ver que não podiam se afastar uma da outra sem olhar para trás é um ótimo final (melhor que o final da série, mas já vamos chegar lá), porém todo o resto se resume a um amontoado de cenas de comédia que não tem graça, um monte de dramas de personagens que ninguém liga e as duas protagonistas parecendo ser duas pessoas completamente diferentes do que elas eram nas duas primeiras temporadas. Nota: 4/10.


Quarta Temporada


Depois da terceira temporada eu estava pronto para desistir de vez do show porque eu pensava que ia ser uma daquelas séries que ia ter umas oito temporadas arrastando ao máximo o que eles podiam até não ter mais nada a ver com que o show era no começo, mas para a minha surpresa eles anunciaram que a quarta seria a última temporada, e depois de eu ver um monte de comentários no twitter sobre como ela teve o pior final desde Game Of Thrones eu fiquei atiçado para ver essa última temporada. A boa noticia é que essa temporada não é tão ruim quanto a terceira, a má noticia é que ainda é uma temporada bem ruim. Na verdade eu esperava que não fosse tão ruim quanto a terceira porque quando algo esta prestes a acabar a gente tende a pensar no que deu certo no começo e isso é meio que feito aqui, principalmente com as duas personagens principais. A Eve novamente é uma detetive muito eficaz e que ta mais badass do que nunca, então toda a trama de investigação que foi tão bem feita na primeira temporada volta aqui, e a Villanelle dá uma diminuída em toda a palhaçada de desenho animado na temporada passada, eu gosto como eles tentam explorar mais a cabeça da personagem, com ela tentando buscar explicações para os conflitos da mente dela, foi algo que foi bem feito na segunda temporada e aparece muito bem aqui, são as melhores cenas da Villanelle nesse último ano. O que eu não gostei foi eles continuarem essa dinâmica de gato e rato entre elas, fazia sentido nas primeiras temporadas porque era uma investigadora tentando pegar uma assassina, e elas se encontrando quase que pelo destino, mas aqui não, as duas já se conhecem, então elas ficarem evitando uma a outra, principalmente no último ano da série parece um puta tiro no pé. Essa temporada também sobre do que eu gosto de chamar de "síndrome de Piratas do Caribe 3" onde todos os personagens ficam se esfaqueando pelas costas o tempo todo, a cada episódio tem uma traição diferente, até chegar no ponto que você já não liga mais para o que esta acontecendo ou qual vai ser o próximo plot twist. Mas no geral o grande problema desse ano é que ele foca em coisas que ninguém liga ao invés do que já tinha sido estabelecido antes. Tem um monte de personagens novos que são apresentados só para literalmente andarem para fora da cena no final, uma subtrama do Konstantin treinando uma novata que não vai pra lugar nenhum, um episódio de flashback da vida da Carolyn, quem dá a mínima pra isso porra??? a série tinha duas coisas para resolver, a relação da Eve com a Villanelle e os Doze, que é essa organização secreta que controla os assassinos de aluguel e que são apresentados já na primeira temporada, o foco da Eve a série toda é derrubar esse grupo, e como isso é resolvido??? convenientemente todas essas pessoas super poderosas vão estar em um barco aleatório e ai a Villanelle aparece la e mata todos eles fora da tela, e é isso ai, anticlimático dessa forma. Eu vou abrir um parágrafo só pra falar do final mas analisando a série no geral, ela é bem incompetente em fechar de maneira satisfatória o show, ela tenta explorar o universo da série, algo que ninguém pediu, e deixa de lado as únicas coisas que todo mundo queria ver nesse último ano. Não é tão chato quanto o ano anterior, mas ta bem longe de ser memorável também. Nota: 5/10.  


E então chegamos ao final. Eu vi muita gente criticar que as pessoas não aceitaram a morte da Villanelle porque elas queriam um final feliz irreal para as duas personagens principais, então eu vou trazer o meu ponto de vista, um ponto de vista de alguém que nunca se importou muito com o romance das duas, de que esse final é uma merda. Ele não é uma merda porque eles mataram a Villanelle, mas porque nada nesse final parece merecido, o jeito que o arco dos 12 é resolvido é tão patético que parece uma fanfic de alguém que já ta com preguiça de escrever, o jeito que a Eve e a Villanelle passaram a temporada toda afastadas e vendo o quanto elas são ruins uma pra outra só para magicamente se perdoarem e virarem um casal felizinho no último episódio parece forçado, a morte do Konstantin que era meu segundo personagem favorito nas primeiras duas temporadas parece totalmente aleatória e arbitraria só pra causar choque na audiência, nem a reação da Villanelle ao saber que a figura paterna dela morreu parece dentro do personagem. Então a morte da Villanelle tomando um tiro nas costas a mando da Carolyn só é mais uma das coisas que não parece merecido, parece algo feito apenas para ser impactante, não tem cara de final de série, parece o final de um episódio qualquer de uma série qualquer. 

E assim se encerra Killing Eve, eu não posso que dizer que foi uma decepção esse último ano porque depois da terceira temporada eu já não estava esperando nada, e eu vou sempre lembrar da série com carinho pelas duas primeiras temporadas, principalmente a primeira que eu com certeza vou assistir de novo e de novo através dos anos quando eu não tiver nada pra fazer. A Villanelle estava entre os meus dez personagens favoritos de séries, hoje ela já foi substituída por outros personagens, que eu vou colocar quando eu atualizar esse ranking algum dia, mas ela ainda é uma personagem bem divertida e que foi atuado com muito carisma pela Jodie Comer que venceu o Emmy de melhor atriz por esse papel em 2019, e a Eve que foi muito bem caracterizada pela Sandra Oh também merece todo o reconhecimento possível, essas duas sim merecem todos os aplausos por carregar esse show por tanto tempo e dar alguma qualidade para ele mesmo nos piores momentos de roteiro. E é isso, até o próximo artigo.
     

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