O episódio mais bizarro (e genial) de Atlanta: Teddy Perkins


Atlanta é uma das séries mais geniais que eu vi nos últimos anos. Criada e estrelada por Donald Glover/Childish Gambino/o Troy de Commmunity/Aquele cara que aparecia em 30 Rock, a série é descrita como "Twin Peaks com rappers", e realmente ela tem tantos momentos engraçados como tem momentos surreais, mas nada na curta história de duas temporadas da série chega perto do episódio 6 do segundo ano da trama, Teddy Perkins. 



Nesse episódio acompanhamos o Darius, o amigo viajado e fora da realidade dos dois personagens principais, e meu personagem favorito da série. O Darius responde a um anúncio de um piano de teclas coloridas e viaja até uma mansão onde ele conhece o personagem que dá título ao episódio, o Teddy Perkins, um sujeito bizarro que parece ter um problema de pele e a cara dele parece uma máscara, ele é interpretado pelo Donald Glover por baixo de uma maquiagem extremamente pesada e se eu não falasse isso você não perceberia de tão diferente que tá o ator. O começo do episódio parece seguir a fórmula de Atlanta, com piadas e momentos meio aleatórios, mas quanto mais Darius vai ficando na casa de Teddy mais o tom do episódio muda para o terror e o suspense.

Descobrimos que o piano na verdade é do irmão do Teddy, o Benny, um talentoso músico do passado que desenvolveu um problema de pele que faz com que ele não possa sair no sol e esta em um cadeira de rodas, o Teddy cuida dele mas não deixa o Darius o ver. O grande conflito do episódio é que o Teddy vai enrolando mais e mais para dar o bendito piano para o Darius, que até chega a ligar para os seus amigos fora da casa (a única vez que eles aparecem no episódio) para comentar sobre o quão bizarro é o Teddy e teorizar de que na verdade ele é o Benny assumindo outra personalidade para lidar com o seu fracasso diante de uma carreira promissora. De volta para dentro da cada Teddy diz que só quer fazer uma última parada antes de dar o piano para Darius, que é mostrar a loja de presentes da mansão, revelando que o pai dele e do Benny treinou os dois para serem prodígios musicais e aplicava castigos físicos nos dois quando eles erravam qualquer coisa, e dizendo que queria transformar aquela mansão em um museu em homenagem aos grandes pais, como o dele próprio, o pai do Michael Jackson, do Marvin Gaye, do Tiger Wood, da Serena Williams, e do que largou o Emilio Estevez no The Breakfast Club.

O Teddy finalmente dá o piano para o Darius, porém um defeito no elevador faz com que o Darius ao invés de ir para o térreo vá para o porão, e lá ele vê um sujeito com o rosto todo coberto e de cadeira de rodas, que nós deduzimos ser o Benny, o sujeito escreve em uma lousa que o Teddy vai matar os dois e o Darius promete que vai ajudar ele. Porém o Darius esperto decide que foda- se tudo isso ele ta dando o fora, mas ele não contava que o carro do Teddy estaria estacionado na frente do seu caminhão, e assim ele tem que voltar para dentro da casa para pedir para o Teddy tirar o carro para ele ir embora, e assim chegamos a chocante conclusão do episódio.

SPOILERS: Logo quando o Darius entra na casa o Teddy aponta uma espingarda para ele, obrigando ele a se algemar em uma cadeira e contando que seu plano desde o inicio era matar ele e o Benny e fazer a situação toda parecer uma invasão doméstica. O Darius começa a conversar com ele tentando persuadir Teddy a não mata- lo citando uma conversa sobre Stevie Wonder que eles tiveram mais cedo, e até fazendo Teddy abaixar sua espingarda, mas não fazendo ele desistir do seu plano. É quando o Benny ferido chega de elevador e pega a espingarda matando o Teddy e em seguida dando um tiro na própria cabeça, tudo isso na frente do Darius. A cena final é o Darius indo embora com o seu caminhão enquanto o piano que ele tanto queria é levado pela policia como evidência ao som de "Evil" do Stevie Wonder.   


Tem inúmeras teorias sobre quem são os personagens do Teddy e do Benny e qual o ponto do episódio, muitos teorizam que na verdade o Benny é o pai dos dois irmãos que o Teddy tortura como vingança pelos maus tratos que eles sofreram na infância, ou que o Teddy é o pai do Benny punindo ele por não atingir a grandeza que ele poderia, ou que os irmãos estão trocados, com o Benny punindo o Teddy por causa da sua condição de pele, nada é confirmado no episódio então esses dois podem ser qualquer um. Na minha opinião não importa muito quem eles são, já que Atlanta sempre foi uma série que falava por alegorias, e para mim o Teddy e o Benny são duas partes de um mesmo artista. Os dois são claramente uma alusão ao Michael Jackson, por toda a coisa do pai abusivo e por serem artista negros que ficaram brancos. Na minha opinião o Teddy representa a persona pública do Michael Jackson nos seus últimos anos, esse sujeito bizarro e até certo ponto cômico, já que o próprio Darius zomba dele no telefone com os outros personagens, enquanto o Benny simboliza o psicológico do Michael Jackson cada vez mais destruído, sequer parecendo a mesma pessoa dos seus dias de glória, enquanto a sua música genial fica totalmente fora de foco, isso pode também ser interpretado no fim do episódio quando o Darius não fica com o piano, o que era o símbolo do talento do Benny. Tem também todo o tema de "dor levar a grandeza", com o Teddy acreditando que os castigos físicos foram um sacrifico que ele e seu irmão tiveram que passar para chegar ao talento, e citando diversos nomes famosos dos anos 70 e 80 que tiveram pais abusivos, o que era proeminente de artistas negros, fazendo uma grande critica a esse tipo de criação, já que os maus tratos que o Michael Jackson sofreu nas mãos do seu pai e o fato dele ter tido a infância roubada em troca de ser um artista mirim foi o que impulsionou todo o seu comportamento estranho e errático. 

O episódio foi indicado a dois Emmys, ator principal em série de comédia para o Donald Glover como o Teddy Perkins, e melhor direção em uma série de comédia, além de vencer dois Emmys de arte criativa por melhor cinematografia com câmera única e melhor edição de som para comédia ou drama. Além disso o episódio foi eleito como o melhor da televisão em 2018 pela revista Time, e pelo Washington Post.


Teddy Perkins é sensacional, é um terror psicológico melhor do que muitos filmes sobre o tema nos últimos anos, e o Donald Glover prova nesse episódio que as ideias dele são tão bizarras quanto são geniais, fazendo um episódio que foge totalmente do estilo comédia/drama de Atlanta ao mesmo tempo que só poderia existir dentro da série. Se você ainda não assistiu, assista, você não precisa saber nada da série e pode encarar tudo como um filme curto de 40 minutos. Esse "EPISÓDIOS" é um quadro novo em que eu vou falar de episódios que eu gosto muito em séries, então até a próxima edição onde eu vou falar de um epi de Mr. Robot provavelmente.
 

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