É possível fazer um episódio de 40 minutos inteiro em um único plano contínuo??? provavelmente não, mas é possível obter esse efeito??? SIM, e é isso que vemos no quinto episódio da terceira temporada de Mr. Robot. A série sempre apostou em estilos experimentais para contar sua história, com muitos episódios com uma pegada completamente diferente do habitual, mas nenhum episódio é tão impressionante em quesito técnico como o eps3.4_runtime-err0r.r00.
O episódio começa com o Elliot não tendo nenhuma memória do que ele/o Mr. Robot fez nos últimos quatro dias, ele vai trabalhar na E Corp como sempre até perceber que ele foi demitido e a fase 2 vai começar naquele mesmo dia. Então a primeira parte desse episódio é o Elliot tentando não ser escoltado para fora do prédio enquanto tenta conseguir um computador para impedir a fase 2 de acontecer. Essa primeira parte tem ótimos momentos de ação e inteligência do Elliot, porque ao mesmo tempo que ele corre escapando da segurança do prédio ele tem que inventar umas desculpas cada vez mais elaboradas para conseguir se manter no prédio e não despertar suspeitas. Eventualmente o plano de Elliot falha, ele é pego pela segurança e tirado da E- Corp. Lá fora esta acontecendo um protesto de manifestantes anti E- Corp, o Elliot está planejando uma ameaça de bomba para evacuar o prédio, mas é ai que ele encontra sua irmã Darlene que revela para ele que ela estava trabalhando com o FBI, e também que a Angela esta trabalhando com o Mr. Robot. Elliot fica muito desorientado com essas novas informações, e enquanto ele tenta assimilar tudo, os manifestantes invadem o prédio da E- Corp.
A segunda parte desse episódio foca na Angela. Na verdade toda essa invasão do prédio foi planejada pela Dark Army para dar uma distração para que o Elliot/Mr. Robot pudesse copiar arquivos de um HSM em uma sala segura, e sem o Mr Robot para fazer isso a Angela assume a missão, tendo que passar por todo o caos que esta o prédio em um verdadeiro motim para dar prosseguimento a fase 2. Essa sequência toda é sensacional, não só pela atuação da Portia Doubleday que consegue passar toda a confusão mental que a personagem dela esta passando, com esse sendo talvez o melhor episódio da Angela na série inteira, como também pelas sequências de ação, com a Angela tendo que fugir dos manifestantes, enganar um segurança, e sobreviver em meio ao completo caos enquanto tenta completar sua missão. No final do episódio ela consegue fazer a missão, e dá os arquivos para um dos membros da Dark Army, e é ai que ela e o Elliot se encontram no prédio ficando cara a cara, com um grande confronto entre eles sendo antecipado, mas a gente só vê esse confronto no episódio seguinte, um puta cliffhanger inclusive.
O uso de planos sequência virou meio que moda na década de 2010, muitos usaram esse recurso para diversos meios no entretenimento, mas eu acho que o uso nesse episódio não é só um dos melhores como é completamente justificável para o tema do episódio. Na primeira parte nós temos o Elliot completamente confuso com o que ele fez nos últimos dias como Mr. Robot, e nesse começo você nem percebe o único take na cena, até ele ver que foi demitido e vai ser tirado do prédio, e ai começa essa corrida contra o tempo dele tentando impedir a fase 2 ao mesmo tempo que ele esta sendo perseguido pela segurança do prédio, e o plano sequência traz todo esse ritmo de adrenalina nessa parte. E então quando chegamos na segunda parte do episódio e a câmera vira brilhantemente de acompanhar o Elliot para acompanhar a invasão dos manifestantes até achar a Angela, os planos longos são feitos para mostrar todo o caos não só do prédio como da situação toda, com a Angela indo muito longe para concluir o plano, o que mostra o quanto a lavagem cerebral da Whiterose surtiu efeito nela. Esse episódio também é muito importante para a progressão da série, não só o Elliot descobre que a irmã esta trabalhando com o FBI, o que vai levar ele a também tentar trabalhar com eles no futuro, como aqui ele realmente vê o que a Angela virou, com o episódio seguinte não apenas sendo a virada completa de personagem dela, como sendo o momento em que ela perde o resto de sanidade, já que vemos o plano da Whiterose ter sucesso com 71 instalações da E- Corp sendo explodidas, o que é de longe a maior atrocidade que o Elliot esta envolvido e é o que transforma o mundo de Mr. Robot em uma distopia.
Como eu falei seria impossível fazer o episódio todo em um take só, então eles fizeram várias tomadas longas e foram juntado todas, mas os cortes no episódio são praticamente imperceptíveis, foi um trabalho incrível de fotografia e produção, que realmente te dá impressão que você esta vendo um plano contínuo do começo até o final do episódio. Tem trabalhos como Birdman em que essa técnica é usada, e apesar de eu adorar aquele filme, não só não é muito perceptível como eu sempre achei que o uso dos planos longos ali não adicionavam muita coisa a história. Aqui não apenas é muito bem feito, como ele te bota no clima do que esta acontecendo ali, parecendo que o episódio só poderia ser feito dessa forma, inclusive para botar o telespectador mais ainda no clima de um take só o episódio foi exibido pela primeira vez pela USA Network sem intervalos comerciais.
eps3.4_runtime-err0r.r00 tem uma nota de 9.7 no IMDB e foi indicado a dois emmys, por mixagem de som e efeitos visuais. E apesar de Mr. Robot já ter experimentado vários estilos diferentes nos seus episódios, brincando com a estrutura de sitcons e peças de teatro, esse se mantém como o episódio que mais me impressionou na série toda, tanto na primeira vez que eu assisti como quando eu reassisti para fazer esse post. É o meu episódio favorito de toda a série e merece ser lembrado como um dos melhores também.
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